Como surge uma idéia?
O início de um processo criativo?
Diversas vezes, aconteceu comigo esse despertar a partir da música.
Com essa performance foi assim.
Em pleno trânsito de Porto Alegre, ouvindo rádio, começa a maravilhosa trilha sonora
do filme Poderoso Chefão.
E para minha surpresa, após aquele breve início clássico, começa a versão ska.
Vibrei dentro carro com a versão inovadora.
Chegando em casa fui atrás do set list e consegui o nome da banda: The Orobians.
Mas ainda naqueles instantes dirigindo, cenas começavam a surgir na minha mente, gestos a serem realizados, figurino, espaço a ser realizada.
Aqui devo pontuar que todo esse processo também teve início a partir do convite da Itinerante Produções pra eu fazer uma performance na semana de comemorações de aniversário do bar 512.
Tive uma semana entre a data do convite e o dia da apresentação.
Elaborei três propostas e visitei o bar duas vezes na semana pra sentir o espaço e o público.
Dois dias antes da apesentação, decidi que Uma Homenagem a Don Corleone seria a proposta de performance que melhor se adaptaria ao espaço e ao momento.
Os ensaios para esta performance foram feitos somente escutando a música muitas e muitas vezes e imaginando meu corpo realizando os movimentos estipulados dentro do bar.
Claro que ao trabalhar com performance, o inesperado é fato!
Um certo grau improviso, é um elemento sempre presente.
Na mesma noite da performance tinha o show do Samba Grego.
E tenho que salientar o momento e lugar: Sábado à noite - 24hs - João Alfredo - Cidade Baixa.
Ou seja, muuita gente.
Porém, nessa semana, o 512 não só comemorou seu aniversário, como a ampliação do bar.
Pude contar então com um palco "portátil" para apresentações.
E aqui agradeço Gui e Rodox pela força!
Agradeço também a Marcinha, amiga querida, por me ajudar nos bastidores...
Antes de entrar em ação, uma plástico branco foi colocado sobre o balcão do bar descendo sobre o palco.
A música inicia, introdução clássica, começo a caminhar lentamente em direção às pessoas sentadas pelas mesas do bar.
Figurino: salto alto preto de cetim, chapéu preto, mini saia em camadas vermelha, camisa branca regata e uma flor vermelha no peito, sem esquecer claro das unhas e batom vermelho.
Olho pela janela as para pessoas no pátio, cumprimento com o chapéu. E assim vou cumprimentando pelas mesas...
Postura de poder. Ombros abertos, cabeça erguida.
A o ritmo da música muda, ska surge. O movimento começa. O ar descontraído de festa com mistura de sedução.
Nesse momento tento seguir pelo bar até a frente junto aos sofá como tinha programado...
No entanto, além de ter muita gente, outra música tocava na parte da frente, não consegui perceber se era o Samba Grego...
Então, improviso.
Quando inicia solo de bandolin me apóio em uma cadeira como um corpo vencido, um corpo que derrete. O ritmo muda novamente, volta o movimento, a sedução ritmados pelo ska. Subo ao palco.
O bandolin retorna, dessa vez me apóio na parede, escorregando e inclinando meu corpo com tentativas de ficar em pé. E o ritmo ska resgata com força, meu corpo vibra com os impactos e volto a me movimentar.
Começando outro solo, caminho por cima do plástico branco e pego um bule de metal que estava por cima do balcão, dentro do bule, há tinta preta.
Me posiciono fazendo gesto de arma com uma das mãos e começo a derramar tinta sobre ela.
A tinta escurece minha mão e escorrega pingando sobre o chão, no plástico branco.
Cada vez mais derramo tinta, minha mão mais preta e o plástico mais manchado.
Por cima do balcão escorrendo até o chão..
Aqui sujo minhas mãos, "cometo o crime".
Acabando o solo, largo o bule no balcão e retiro dentro da camisa lenços brancos.
Aqui começa a tentativa de "limpar as mãos".
A música vai em uma crescente e termina. Jogo o lenço no chão e saio.
Aplausos surgem.
Vou direto pra pia lavar realmente minhas mãos.
Quando volto consigo olhar melhor os desenhos, manchas e respingos sobre o plástico branco.
Infelizmente não tirei foto.
mas ficou registros de vídeo.
Recolhi tudo e volto pra noite 512...
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